No Verão de 2022, no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, no Rio de Janeiro, Brasil, a equipa do neurocirurgião Gabriel Mufarrej separou dois gémeos siameses que partilhavam, 15% do cérebro e uma importante veia que conduz o sangue para os corações de cada um.
Após nove cirurgias e mais de 33 horas no bloco operatório, os meninos foram separados. Conta o neurocirurgião que foram realizadas todas as análises e exames, assim como foram feitos modelos dos cérebros das crianças em 3D, com o objectivo de perceber a estrutura cerebral e as veias que partilhavam.
Durante a última cirurgia, por vezes, Gabriel Mufarrej parava e observava os modelos em 3D para compreender o que fazer a seguir, revela o cirurgião. É que a impressão 3D permite antecipar a intervenção e contribui para melhorar a precisão porque o cirurgião tem uma ideia clara sobre as áreas em que está a trabalhar.
Esta é uma das formas como a impressão 3D pode ser usada na saúde. Com uma impressora 3D é possível imprimir objetos em formato tridimensional, ao desenhar em programas de computador e depois fazendo a impressão.
A ideia da impressão 3D nasceu na literatura de ficção científica, num conto do autor norte-americano Murray Leinster (1896-1975), onde era descrito um processo em que plástico saía de um braço móvel, que desenhava no ar e o material ia endurecendo, formando o objeto desejado.
Só nos últimos anos é que esta tecnologia foi desenvolvida de tal maneira que pode ser usada em muitas áreas, da arquitetura e design à engenharia, passando por diferentes indústrias e pela saúde. Nesta, pode ser usada em hospitais, mas também no ensino da medicina e, claro, na investigação.
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E voltemos à cirurgia, além de um modelo 3D poder ajudar o médico, também pode ser útil para o doente na comunicação com o cirurgião, para compreender como vai ser feita a intervenção.
Outra das utilidades da impressão 3D na área da saúde é na construção de próteses personalizadas – por exemplo em ortopedia, maxilo-faciais e craniana –, e à medida de cada doente.
Também pode ser usada em implantes dentários. Atualmente, é possível imprimir implantes adequados a cada doente, em titânio, através de uma impressora 3D. Antes desta inovação, os doentes preocupavam-se com o tempo de recuperação e de adaptação da boca a um implante, mas com a criação destes em 3D, esse tempo tornou-se muito mais curto porque o software existente permite desenhar corretamente a estrutura do osso e o implante adapta-se ao tecido ósseo, acelerando o tempo de recuperação e diminuindo a taxa de rejeição.
No que diz respeito à ortopedia, além de ser mais fácil criar implantes mais condizentes com a realidade de cada doente, a impressão 3D veio também torná-los mais baratos. Por exemplo, o que antes era caríssimo e, por isso, difícil de substituir, tem agora custos mais amigos das famílias, porque o equipamento pode ir sendo sempre adaptado à medida que, por exemplo, uma criança que utilize uma prótese de um pé, vá crescendo.
Mas é possível fazer impressão, por exemplo de vértebras, para doentes que precisem de uma intervenção à coluna. Além de ossos e cartilagens, uma impressora 3D também pode reproduzir tecidos, como a pele – ao imprimir células epiteliais.
As impressoras 3D servem também para construir dispositivos médicos que se adequem a um doente, deixando para segundo plano os dispositivos universais. Por exemplo, imprimir um inalador para o qual foi tido em conta o formato particular da boca ou do nariz do doente.
É ainda possível imprimir instrumentos cirúrgicos personalizados, como cabos de bisturi ou pinças, o que permite aos médicos obter um melhor desempenho durante uma cirurgia.
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Sejam próteses, implantes, dispositivos ou instrumentos cirúrgicos, estes podem ser impressos em diferentes matérias – do titânio para os implantes dentários ao nylon ou aço inoxidável.
A Nova School of Science & Tecnology, numa parceria entre a Nova Medical School e o FCT FabLab, e com o apoio da FAN3D (empresa especializada em impressão 3D/manufatura aditiva), propõe um curso de 32 horas, entre aulas teóricas e práticas, de “Impressão 3D para a Saúde: do problema à solução”, a pensar não só em cirurgiões, mas também numa série de profissões ligadas à saúde — de fisiatras a reumatologistas e ortopedistas, passando por engenheiros biomédicos. Este curso destina-se a quem quer melhorar a sua prática clínica e desenvolver competências na área do design e prototipagem rápida, focados na impressão 3D.
O objetivo é que as aprendizagens — no final, os participantes obtêm o Certificado de Aptidão de Competências Introdutórias ao Fabrico Aditivo pelo International Additive Manufacturin Qualification System (IAMQS) —possam ser aplicadas em diferentes áreas da saúde, nomeadamente reabilitação, reumatologia, ortopedia, cirurgia e no ensino.
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Ana Rodrigo Gonçalves Head of Innovation for Corporate Development
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