Falar de empreendedorismo é, muitas vezes, reduzir o conceito a competências técnicas, a traços de personalidade ou a iniciativas empresariais. Esta visão, embora útil, é limitada. Partilho aqui uma visão pessoal, resultante da “vida real”: a de entender o ato de empreender como o da criação de caminhos e de possibilidades, uma forma de estar na vida que se traduz na capacidade de identificar problemas (quem não os tem, como fonte de inspiração?), estudar possíveis alternativas para os resolver e mobilizar recursos para agir e encontrar uma solução adequada, ainda que não seja perfeita. Trata-se de um comportamento proativo e voluntário, um impulso para transformar o que existe numa realidade melhor (ou, pelo menos, com essa intenção!). Neste sentido, será que o empreendedorismo pode ser visto como um “estilo de vida”, que se pode desenvolver e praticar, e vice-versa, no cruzamento entre a “escola da vida” e a “vida na escola”? Deixo a inquietação.
Assim sendo, nos dias de hoje, há que reconhecer e enaltecer esta atitude empreendedora, que antecede o dito comportamento, envolvendo curiosidade, iniciativa pessoal, resiliência e um “compromisso sério” com a aprendizagem contínua. O lifelong learning surge aqui como a base para este comportamento: quem aprende, continuamente, estará preparado para agir, adaptar-se e inovar. E continuar a agir. Claramente, este processo não é neutro, exige uma reflexão crítica, autoconhecimento, desenvolvimento de competências e literacia tecnológica, isto é, uma espécie de “tecnologia comportamental” que combina competências humanas com a capacidade de integrar e usar tecnologia de forma ética, criativa e eficaz.
Esta “forma de estar” manifesta-se em diferentes contextos: no empresarial, sendo o empreendedorismo entendido aqui na perspetiva da criação de negócios e projetos próprios ou no intraempreendedorismo, num conceito menos “famoso” mas deveras importante, enquanto a capacidade de se inovar dentro de organizações já existentes, com “empreendedores dentro de casa” e nas equipas de trabalho; e, também, no académico: na interação e na troca de experiências e de conteúdo entre professores e alunos, com a necessidade real da existência de “momentos de aprendizagem”, cocriados, com a transferência de conhecimento a ser feita de forma fluída e com impacto. E não apenas para cumprir calendários.
Neste enquadramento, torna-se urgente repensar a educação empreendedora. Não se trata apenas de preparar futuros empreendedores e empresários, mas antes de formar pessoas (cidadãos) com pensamento crítico, capacidade de ação e abertura à experiência e à aprendizagem. A Escola (em todos os seus níveis de ensino) deve ser um espaço no qual o empreendedorismo é vivido como prática quotidiana e não como disciplina. Só assim criaremos as condições para a existência de uma Sociedade mais inclusiva, participativa e orientada para soluções. Se eu soubesse o que sei hoje e ainda andasse no Jardim-Escola…
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